Quais os desafios das mães atípicas?
Guerreira. Batalhadora. Carinhosa. Sábia. Altruísta. Perfeita. A instituição materna sempre foi envolta em um rótulo romântico de santidade e perfeição. As mães em qualquer cultura de qualquer época sempre foram vistas com um misto de admiração e devoção. Mas em todos os tempos houve desafios que as mães precisaram enfrentar, desde pessoais a culturais.
No caso das mães atípicas, a situação se torna ainda mais complexa. Elas são de um grupo ainda pouco compreendido, o que traz bem mais desafios em sua rotina diária. O que são mães atípicas? Que desafios elas enfrentam? Como podem superá-los? Continue a leitura e descubra!

Os principais desafios
O primeiro desafio vem logo no começo, no diagnóstico. Mãe atípica é a classificação dada às mulheres que são mães de filhos com algum tipo de necessidade especial, destacadamente o autismo. Logicamente, toda mulher espera que seu filho seja plenamente saudável, sem nada que possa comprometer seu desenvolvimento Então, quando o filho é diagnosticado com autismo, o primeiro desafio a ser superado é a aceitação. Mais à frente você entenderá algumas causas de tal dificuldade, mas por hora é importante compreender o quão difícil é para uma mãe entender esta condição.
Crianças autistas são perfeitamente capazes de se desenvolver como qualquer criança. O autismo é uma condição, não doença. Mas para que o desenvolvimento seja saudável, a mãe precisa se adaptar a uma série de questões, como rotina diferenciada, dieta, tratamentos (incluindo terapia). Tudo isso acrescentado à rotina normal de qualquer dona de casa, como cozinhar para a família, ensinar tarefas escolares aos filhos e limpeza doméstica. O dia-a-dia precisa ser adaptado ao desenvolvimento da criança, algo que exige tempo e atenção. Desafiador, não acha?
Além disso, uma mulher que se torna mãe normalmente deixa de lado interesses pessoais a fim de dar plena atenção à criação de seus filhos. Portanto, você deve imaginar como é complicado para uma mãe atípica reservar um tempo para si mesma em atividades tipicamente femininas, como pintar as unhas ou cuidar dos cabelos. E no caso delas, existe mais uma situação constante: questionamentos pessoais. Pensamentos do tipo “por que comigo?”, “ e se ele não fosse autista?” bem como “por que aconteceu com meu bebê?” são constantes na rotina desgastante delas.

Cultura Capacitista
Vivemos em uma sociedade capacitista, ou seja, pessoas com qualquer deficiência são vistas como um incômodo social. Isto por consequência lógica gera uma série de crenças altamente agressivas e preconceituosas, que dificulta extremamente a vida de uma mãe atípica. Por exemplo, pessoas autistas não raro são confundidas com quem tem deficiência mental, algo que não poderia estar mais longe da realidade. O uso de frases ou expressões perjorativas são vistas como simples brincadeiras, e as necessidades de uma criança autista frequentemente não são levadas em consideração em serviços e espaços públicos, como hospitais, transporte públicos, escolas ou algo tão simples como um parquinho em uma praça ou condomínio.
As mães atípicas ainda precisam enfrentar julgamentos de pessoas que não procuram entender tal situação. Expressões como ‘você não tem Deus no coração”, “nem parece que ele é deficiente”, criança com probleminha” e “isso não é autismo, é falta de disciplina” caem como uma granada aos ouvidos de quem enfrenta a situação diariamente. Não raro tais expressões vem de familiares, inclusive, o que gera mais ainda sentimentos de tristeza, raiva e revolta.

Serviços Públicos Ineficientes
Como já mencionado anteriormente, a falta de informação associada à uma cultura capacitista gera como consequência o pensamento de que uma pessoa com necessidades especiais, como autistas, são incapazes. É por isto que não vemos com frequência serviços públicos adaptados para mães atípicas e seus filhos. Médicos sem esta especialização, estruturas físicas de hospitais e escolas não adaptados, tratamentos caríssimos e a falta de acessibilidade dificultam bastante a rotina de quem mais precisa desses equipamentos. A falta de informação pública a respeito de onde encontrar profissionais especializados, como professores ou médicos, e a falta de interesse da gestão pública em políticas sociais inclusivas dificultam ainda mais a situação.

Dicas para Mães Atípicas
Se você é mãe de uma criança autista, ou com qualquer outra necessidade especial, leia com atenção o que se segue: DEFICIÊNCIA NÃO É INCAPACIDADE! Uma criança autista tem a capacidade de se desenvolver tanto quanto uma criança sem esta condição. Pode estudar, interagir com outras crianças, viajar, enfim, pode TUDO! A primeira pessoa a quebrar esta crença limitante precisa ser você mesma.
Não acredite que seu filho precisa ter uma criação diferenciada de uma criança sem deficiência. Acima de tudo, seu filho é uma pessoa que precisa aprender limites, obediência e responsabilidades tanto quanto qualquer outra criança. Portanto, não prive seu filho de atividades normais como andar de bicicleta, brincar com outras crianças ou ir à escola. Esta rotina, aliás, é imprescindível para o bom desenvolvimento de seu filho.

Cuide-se
Além disso, separe um tempo para si mesma em sua rotina. Lembre-se que, em um avião, a máscara com oxigênio cai primeiro para a mãe. Sem isso ela fica impossibilitada de ajudar seus filhos. Da mesma maneira, crie sua própria máscara. Pintar as unhas, arrumar o cabelo, tratamentos estéticos, uma refeição com uma amiga, exercícios, cursos ou simplesmente ir à praia pode ser uma injeção de ânimo em uma rotina tão cansativa. Também, se esforce para não impor crenças limitantes em outras pessoas. Como assim?
Há casos em que familiares e amigos podem e devem ajudar uma mãe atípica. Se eles oferecerem ajuda, não hesite em aceitar. Pensamentos como “não vai cuidar como eu” podem limitar bastante o que você pode fazer por si mesma e pelos outros. Deixe que outros interajam com seu filho. Vai ser uma boa experiência para as três partes envolvidas. E também peça ajuda quando precisar.
Não hesite em procurar ajuda especializada. A ideia de que mães são perfeitas é absolutamente errada. O autismo é uma condição diferenciada, que exige informação atualizada e constante. Faça o possível para estar em dias com informações de especialistas na questão, como terapeutas, médicos e até pedagogos. Procure fazer uma terapia especializada. Isto vai lhe ajudar com a sobrecarga emocional, além de lhe auxiliar de forma mais prática na rotina diária.

Dicas para Quem Convive com Mães Atípicas
Se você tem parentes, amigas ou vizinhas que são mães atípicas, existem formas bem simples em que você pode ajudá-las na rotina. Por exemplo, crie o hábito de ligar oferecendo ajuda quando for ao supermercado. Talvez ela precise de algo, mas não pode sair de casa no momento. Na rotina, se encontrar algo que ela e o filho gostem como bolo ou até uma pequena lembrança, presenteie. Não precisa esperar nenhuma data especial para fazer isso. Apenas diga que lembrou deles. Se for possível, traga comida pronta a ela. Muitas vezes na rotina as mães atípicas não têm tempo para preparar uma refeição em casa. Você vai ver a diferença que isso fará!
Se ofereça para ajudar e cumpra sua palavra. Normalmente, as pessoas dizem que é apenas ligar quando precisar, mas na prática isto não acontece. Tire um tempo para brincar com as crianças e ouça quando uma mãe atípica estiver falando com você. Na maior parte das vezes elas não querem conselhos, apenas um ouvido atento e um ombro amigo neste mundo caótico e julgador. Ao convidá-los para alguma refeição juntos como jantar, pergunte antes se ela ou o filho possuem alguma dieta especial para que você adapte a ocasião a eles. Faça questão de dizer que ficará feliz com a presença deles – não raro são as ocasiões em que mães atípicas e seus filhos são excluídos de atividades sociais.
E mesmo que não tenha ninguém em sua família ou grupos de amigos que seja mãe atípica, todos podem ser gentis e empáticos com quem precisa lidar com esta situação diária. Algo simples, como perguntar em que pode ajudar naquele momento, buscar um copo de água ou até uma refeição faz bastante diferença no dia de uma mãe atípica.
Conclusão
Neste mês das mães, queremos expressar nossa admiração e gratidão pela existência destas mulheres tão exemplares em nossa sociedade! Esperamos que com este artigo possamos ajudar várias pessoas que estejam ou lidem com esta situação. E já sabe: estamos disponíveis para ajudar no que for necessário. Aqui no Espaço Crescer e Aprender dispomos de profissionais com experiência, especializados em diversas modalidades e tratamentos terapêuticos. Venha conferir!